Por Hoffmann.
Uma segunda-feira eu estava me preparando para ir ao Terreiro, quando minha filha me pergunta aonde eu ia vestido todo de branco - Vou à gira, filha.
O que é isso papai? O que é gira?
Gira é um dos principais rituais da Umbanda, a gira é formada por três partes, a preparação, a abertura e o fechamento. É onde são realizados os trabalhos de cura, as consultas...
E o que é Umbanda? Eu vejo você sair assim toda segunda-feira e sempre quero perguntar, mas quando você chega já estou dormindo.
A Umbanda é uma religião cristã, assim como o Catolicismo, o Protestantismo, a Igreja Batista entre outras. Todos acreditamos que exista uma força superior que comanda todo o universo, cada religião chama essa força por um nome, nós da Umbanda chamamos essa força de Zambi.
Ãhn, e você já viu essa força?
Nós a vemos todos os dias, com o nascer do sol, com as flores, com o céu, com os animais e também a vemos a noite, com as estrelas, a lua; todos nós somos parte dessa energia e cada pessoa tem o direito de escolher a religião que melhor lhe representa, com qual mais se identifica, a qual mais gosta.
Mas qual eu vou saber a que eu mais gosto? Não tem uma mais certa do que a outra?
Não. Cada um de nós acredita naquela que quiser, não há como dizer qual delas é a mais certa que outra. Tudo é uma questão de fé. Fé é acreditar em algo sem ter provas de sua existência ou de sua verdade. É acreditar nessa força superior e fazer as coisas que a religião que você escolheu diz que são as melhores para nossa evolução.
Acho que tô entendendo. Fé é como quando eu vou perguntar alguma coisa prá você, sem eu saber que você sabe a resposta? É que eu acredito que você saiba...
É isso mesmo filha.
Tá, mas agora me explica o que é a Umbanda.
Tudo bem, mas vamos começar pelo início. A Umbanda que praticamos, nasceu no dia 16 de Novembro de 1908, no distrito de Neves, em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Nessa casinha aí embaixo:
A pessoa escolhida pelos espíritos para ser o portavoz na divulgação dessa nova religião, foi Zélio Fernandino de Moraes, na época ele tinha apenas 17 anos. Portanto a Umbanda, é a única religião realmente brasileira. Pontualmente às 8 horas da noite, desse dia, o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou no menino e usando as seguintes palavras iniciou a Umbanda:
"Aqui se inicia uma nova religião, onde os espíritos de pretos velhos africanos, que foram escravos e que desencarnaram, poderão trabalhar tranqüilos e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, religião ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo". "- Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem nas horas de aflição, todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que têm mais a ensinar e ensinaremos àqueles que souberem menos. A nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai."
Ué... você disse antes... a Umbanda que praticamos.... Tem outro tipo de Umbanda?
Infelizmente vivemos num mundo aonde muitas pessoas, que se dizem de uma ou outra religião, se aproveitam da fé das pessoas para conseguir ganhar dinheiro ou outras coisas com isso. Outras usam o poder dos espíritos para tentar fazer mal a alguém. Tudo é uma questão de escolha: quando nós fazemos a coisa certa, o que ganhamos?
Coisas boas...
E quando fazemos a coisa errada?
Coisas ruins.
Muito bem! É isso mesmo. Tudo na vida é uma questão de escolha. A isso se dá o nome de livre arbítrio. E cada religião mostra ao seu devoto quais os melhores caminhos. Umbanda é aceitar a fé sem barreiras. Existem regras e rituais a serem seguidos, mas a fé é de cada um. É única e vem de dentro, sem ser aprendida ou ensinada. Umbanda é ter a liberdade de expressar sua fé, amor e caridade, baseada nas palavras de Jesus Cristo: “Amai-vos uns aos outros”. A forma de se praticar a Umbanda varia de região para região, mas é justamente esta variedade de ritos, baseados nas palavras do Criador, que fazem da Umbanda o que ela é. Não é impondo regras ou criando dificuldades e sofrimentos aos fiéis que se faz uma religião, através do medo ou da culpa, mas sim através da diversidade dos ritos que se chega à unidade do amor. Isso é a luz.
Você antes disse que o rapaz, Zélio não sei o que... Zélio Fernandino de Moraes. Esse mesmo. Ele foi escolhido pelos espíritos. Papai, o que acontece quando morremos? Por que morremos?
Bem filha, essa é uma pergunta a qual não existe uma resposta sabida por nós, viventes. Somente teremos essa resposta quando, de fato, morrermos; mas as experiências, as quais passo no Terreiro do Pai Maneco, me mostram que morrer é apenas mais um capítulo da nossa vida. Imagine nosso corpo como sendo uma máquina, assim como um carro.
Como um carro?
Sim filha, o carro não tem motor, rodas, canos, tubos e equipamentos que fazem ele se movimentar?
Sim...
Pois então, assim como o carro, todos nós também temos esses mesmos equipamentos, nosso coração, nossas veias e artérias, nossos membros, nosso cérebro. Todos eles funcionam em conjunto para podermos nos movimentar. Assim como no carro, se algum de seus componentes falha, todo ele pára, não é mesmo? Funcionamos da mesma forma, se um de nossos “componentes”, nossos órgãos, falha, todo o corpo é prejudicado. Não devemos enxergar nosso corpo como sendo a única forma de vivermos. Podemos viver de outras formas...
“Peraí”, não entendi nada agora, como viver de outra forma?
Deixa eu acabar de explicar. Podemos viver de outras maneiras que não conhecemos, apenas acreditamos. Existiu um homem, chamado Allan Kardec que viveu há mais de cem anos na França. Ele foi quem primeiro afirmou que nossa vida continua após a morte do corpo, mas isso já é sabido desde a antiguidade. Kardec escreveu no “Livro dos Espíritos” uma série de perguntas e respostas de suas conversas com espíritos desencarnados, ou seja, de pessoas que viveram em várias épocas, assim como eu e você. Nós não somos só o corpo, somos também coisas que não podemos tocar: a mente, a imaginação, os sentimentos, os sonhos etc... Todas essas coisas que não fazem parte da matéria (o corpo) fazem parte do nosso espírito, da nossa alma. Ela é quem somos. Você acha que o que você é está apenas presente no seu corpo? Você não é muito mais do que um conjunto de equipamentos que trabalham para que possamos desempenhar nossos papéis aqui na Terra? Nós somos nossos pensamentos, nossas vontades, nossos sentimentos. Tudo isso reunido é o nosso espírito e esse espírito é imortal, pois ele não se desgasta com o tempo, não precisa de combustível para funcionar e nunca acaba, nem estraga.
Mas como é que eles falam conosco se não são de carne e osso?
Aí é que entra a grande “descoberta” de Kardec: os espíritos se comunicam conosco sim, através de sonhos ou intuições e também através de pessoas chamadas “médiuns”. Não são pessoas especiais, pois a mediunidade está presente em todos nós, já que somos espíritos encarnados. Médiuns são pessoas que treinaram sua sensibilidade, para captar as vibrações dos espíritos. Existem vários tipos de mediunidade, tem aqueles que falam, que escrevem, que pintam e várias outras formas de apresentá-la. A Umbanda se utiliza desses conceitos para se comunicar com os espíritos, assim como os espíritas Kardecistas. Portanto, morrer é apenas mais uma etapa em nosso desenvolvimento, em nossa evolução. Quando morrermos e nos libertarmos de nosso corpo físico, teremos a capacidade de lembrarmos de todas as nossas encarnações, ou seja de todas as vezes que “vivemos”.
Mas por que temos que viver tantas vezes?
Para que em cada uma delas possamos aprender a sermos pessoas melhores. Vamos fazer uma comparação: na escola temos um monte de coisas para aprender e também temos as provas bimestrais as quais temos que fazer. Se estudarmos, fizermos nossa lição de casa, freqüentarmos a escola diariamente e estudarmos para tirar uma boa nota nas provas, não passamos de ano? Com nossas vidas é a mesma coisa. A cada vez que encarnamos, é como se estivéssemos passando de ano, da 1ª para a 2ª, da 2ª para a 3ª e assim por diante. Se as lições que aprendemos na escola não são estudadas e praticadas, tiramos notas ruins nas provas e podemos repetir de ano, da mesma forma em nossas vidas: se não fizermos as coisas certas, se não evoluirmos, voltamos e começamos de novo, para tentar “passar de ano” e assim da próxima vez que estivermos aqui, teremos outras coisas para aprender, outras dúvidas, outros erros e outros acertos também. A isso chamamos evolução.
Continua na próxima postagem 'OS ORIXAS DA UMBANDA'
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